GANA n' OESQUEMA
Veja aqui a entrevista que os GANA deram à revista online OESQUEMA.
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Veja aqui a entrevista que os GANA deram à revista online OESQUEMA.
Qual foi o último disco que o deixou assombrado?
«Beggar on a Beach of Gold» dos Mike and the Mechanics.
Com que músico não desdenharia trocar de pele?
Rão Kyao. Se não der, Rod Stewart.
Que músicos já o desiludiram forte e feio?
O João Gil, o Luís Represas, o Manuel Faria, o Artur Costa, o António José Martins, o Fernando Júdice e o José Salgueiro. Mas este nem teve a culpa.
Que concerto se arrepende mais de não ter visto?
Yanni na Acrópole.
Consegue associar músicas a momentos ou pessoas da sua vida?
Consigo, mas com alguma dificuldade.
CDs ou MP3?
Nem uma coisa nem outra. Ouço o rádio.
Que música não consegue ouvir nem que lhe paguem?
Choro sempre com «I would do
Tem Myspace?
Sobre a Manobra da Retaguarda, também chamada, a Manobra do Desenlace
Tempos houve em que toda a população da Lousã era servida por apenas dois médicos, Eu, e o Diamantino, o veterinário.
De um modo geral, nunca nos metíamos no trabalho um do outro…ele passava o tempo no campo, tratando maioritariamente bovinos e caprinos, enquanto que eu, na altura detentor de uma jovialidade e pujança invejáveis, ocupava o meu dia a ver, mais coisa, menos coisa, cerca de 20 doentes de ambulatório, deixando para fazer à noite, aquilo que mais gostava, ou seja, a orquestrar e a organizar o Grande Congresso Médico da Lousã. Este evento realizava-se todos os anos no primeiro sábado do mês de Setembro, sendo que naquele exacto ano de que trata esta crónica, prometia festa brava, pratos regionais e palestrantes oriundos dos mais diversos pontos do país.
Ora sobre o Diamantino, diziam-se raios e coriscos! Os mais velhos da terra contavam histórias dantescas deste homem, pelo que não se ficavam pela alcunha de O Cangalheiro de Ovelhas, visto que detalhavam ainda os pormenores mais sombrios por ele protagonizados. Entre muitos episódios, dizia-se que um dia, em pleno parto de uma vaca, Diamantino estaria ligeiramente alcoolizado, o que supostamente o teria levado a utilizar fórceps de uma forma abrutalhada…o resultado final terá sido um pequeno bezerro, que ainda hoje exibe um pedaço de fórceps incrustado no crânio, que se decidiu nunca extrair, tendo em conta o perigo de hemorragia interna. Ora o ferro no focinho não seria coisa constrangedora para um animal, não fosse o facto de a lesão cerebral lhe ter prendido as patas do lado direito, e logo incapaz de acompanhar a sua manada.
Noutra ocasião, consta que Diamantino terá “abafado” um periquito num copo de aguardente, acto vil e aparentemente injustificado. O Prior viria até a mencionar esta inusitada história num sermão.
Comigo o Diamantino sempre se comportou como um verdadeiro senhor, pelo que nunca puxei estes assuntos.
Então, um dia em que eu estava já no último doente, a Enfermeira Manuela entra-me pelo gabinete adentro e grita o seguinte: “Doutor Ribeiro! A égua Lusitana está a dar à luz! Venha depressa, que as águas já rebentaram! Ajude-nos! Ajude a Lousã!”. Eu, ainda estupefacto, terei perguntado o que é que um médico especializado em medicina geral e familiar ia fazer para um parto de uma égua!...mas a Manuela foi clara na resposta, que eu decerto modo já esperava…respondeu ela:”Doutor Ribeiro, ninguém encontra o Doutor Diamantino! E esta égua já nos deu em tempos um campeão nacional, o Garanhão Lousanense, pelo que este segundo potro precisa de ser tirado cá para fora com vida! O Doutor Ribeiro é a única pessoa que nos pode ajudar! Venha!”
Bem, não tive tempo para reflectir…vesti de novo a bata, pus o estetoscópio ao pescoço, e corri de mão dada com a Manuela até à Quinta do Vilar Branco! Quando cheguei, um espectáculo de sofrimento esperava por mim. A coitada da égua chorava a olhos vistos, as águas ensanguentadas coloriam agora o chão da estrebaria e os caseiros estendiam as mãos à cabeça. Perante este quadro de aflição, enchi o peito de ar e disse:”Tragam-me umas luvas! A Lousã vai ter um novo Garanhão!”. E comecei a esgravatar o canal de parto…e logo de súbito me deparo com um quadro ainda mais aterrador…o pequeno potro tinha o cordão umbilical enrolado à volta do seu pescoço…fiquei mortificado! Sem saber o que fazer!
Esperei uns segundos e surgiu-me a Revelação! Veio-me à memória a Teoria da Retaguarda do Saudoso do Doutor Andrade! Gritei então bem alto para a Manuela: “Tem que ir à Retaguarda”. E ela percebeu o que eu estava a dizer…então, enquanto eu segurava na cabeça do vulnerável potro, a Manuela introduziu o seu antebraço direito desnudado no ânus da égua…já no interior fez a manobra do desenlace que em tempos eu lhe tinha ensinado…uma manobra fácil, em que bastava agitar o feto batendo três vezes com vigor na parede rectal anterior…e ela assim fez, com uma mestria inigualável…nisto, eu sinto o cordão a desprender-se e o Garanhão é puxado cá para fora com vida, para felicidade dos caseiros e de todos os outros que estavam presentes na estrebaria!...Eu tinha salvo a vida daquele pequeno potro! Entretanto a Manuela retirou o antebraço e fomos todos para casa descansar…O sacana do Diamantino nunca mais foi visto na Lousã.
AMOR: Este ano vai ter vários(as) pessoas interessadas em si, mas não se vai relacionar com nenhum(a) porque serão todas piores que o seu(sua) anterior namorado(a). Se beber muito, vai desejar essas pessoas e acabará por trocar sms com elas. Mas não passará disso.
SAÚDE: Há fortes hipóteses de apanhar uma micose se for à piscina.
DINHEIRO: Vai alugar um DVD antes de ir de férias mas vai esquecer-se de o devolver. Depois, regressando das férias, vai pagar uma nota preta pelo aluguer.
OBJECTO DA SORTE: Ficha tripla.
TOURO FAMOSO:
Taffarel
A propósito de um caso clínico bem bicudo
Ora estava eu acabadinho de me tornar especialista, quando me surgiu um caso enigmático pela frente…Lembro-me perfeitamente da Enfermeira Manuela me ter entrado pelo gabinete adentro, gesticulando e gritando fervorosamente: “Doutor, Doutor, está lá fora um caso bem enigmático!”. (A Enfermeira Manuela era uma mulher que eu prezava muito e na qual depositava uma confiança absoluta ).
Confesso que em tempos tinha mesmo ocorrido uma amizade um pouco mais colorida entre nós, tendo partilhado momentos até, eu diria, um tanto ou quanto quentes para a época. A minha mulher gostava de passar férias em Vilamoura, enquanto que eu, mais recatado, ficava pela província, pelo que a Lousã me preenchia em plenitude, mesmo em alturas de lazer. E a Manuela também me viria a preencher em todos os sentidos e mais algum, se é que me faço entender. Que mulher fogosa! E como primorosamente declamava provérbios regionais… Um homem casado também se pode divertir, desde que seja educado e tenha horas decentes para chegar a casa.
No que diz respeito ao caso clínico, digo-vos que numa primeira instância, me deixou algo assustado. Tratava-se de um indivíduo de meia-idade, de raça caucasiana, bem parecido e aparentemente com posses. Parecia-me ainda assim, triste, acabrunhado, com um semblante típico de um homem encornado. Perguntei-lhe o que o trazia ali, ao Centro de Saúde da sua área de residência…respondeu com alguma latência, o seguinte: “Soutor, vejo-me numa embrulhada da qual me parece difícil sair.” E continuou ainda…”Vendi uma propriedade de 6000 hectares, na qual havia anos que tirava 300 alqueires de azeitona, o que me dava azeite para todo o ano e ainda podia vender à família! Mas Soutor, fui levado à certa! O sacana que ma comprou é espanhol, e espetou-me uma boa bebedeira antes de assinar o Contrato! Então soube agora que vendi o meu lindo Olival por 100 contos de reis! Veja-me só esta desgraça! Veja-me só isto!”
Perante tal drama, respondi: “ Ó homem, mas isso é um caso de tribunal e não de hospital! Vá ao Juiz! Ele que lhe resolva o assunto!”
Mas ele retorquiu: “Mas Soutor Ribeiro, depois de ter sabido esta desgraça, desesperado, bebi toda a gasolina da minha Carrinha HIACE! E eu tinha enchido o depósito ainda meia-hora atrás! E agora, tenho uma dor de barriga que me vai para a perna esquerda…não é forte, mas o que me assustou foi a cor da urina…é preta! Tão preta quanto as minhas azeitotoninhas, que acabei de perder! o que hei-de fazer, Soutor Ribeiro? O que hei-de fazer?”
Bem, correu-me um frio na espinha, pior do quando soube que a minha mulher estava de gémeos, tempos em que sustentar uma criança não era fácil, quanto mais duas.
Mas com uma voz que saiu das entranhas e com o conhecimento que o Doutor Andrade me tinha proporcionado em tempos de Faculdade, gritei: “Manuela, despache-se! Vamos por este homem a mijar! Traga-me um isqueiro!”.
A Manuela nesse mesmo instante abraçou o doente por trás, ao nível do abdómen, e carregou-lhe com força no ventre, de modo a que começasse a verter águas. Eu, virado para ele, coloquei o isqueiro, aceso, junto à uretra do mesmo…Rapidamente começou a jorrar urina preta, cor de petróleo, que em poucos segundos se transformou num jacto de fogo supremo! Mijou durante 4 minutos e meio.
No fim da micção, já completamente depurado da gasolina, senti que tinha salvo a vida deste homem…foram as palavras sábias do Doutor Andrade: “Ribeiro, uma intoxicação por gasóleo nunca se trata forçando o vómito, pelo que rebentarias com o esófago do moribundo! É expelindo estoicamente a urina contaminada, se possível, com a ajuda de um fósforo, para apressar o processo!”
…Ainda hoje se conta na Lousã, a história do Mija Fogo e do Grande Doutor Ribeiro!
Agradecido, o pobre homem deu-me de mão beijada, um outro Olival que detinha mesmo ao lado, pelo que ainda não preciso de comprar azeite no Hipermercado. Consumo do meu, que sei que é de boa qualidade.
Entrevista que Bruno Aleixo deu à TSF, no programa “Pessoal e… Transmissível”, de Carlos Vaz Marques.