Gran Torino
Esta semana vi três filmes. Gran Torino conta a história da personagem de Clint Eastwood, um septuagenário que tem um carro todo polido, uma espingarda e ferramentas na garagem, e cujos vizinhos são duma raça de chineses que passa a vida a comer e que têm sempre a casa cheia de gente. Indo directo ao assunto, importa sobretudo dizer que o filme de e com o Blondie d’“O Bom, o Mau e o Vilão” peca por ter, a fazer de garoto chinês que o Clint Eastwood ao princípio não gosta mas depois gosta mais ou menos e no fim já gosta muito, um jovem actor a fazer de pior actor da história, com laivos de autismo semi-medicado. Não percebo esta opção de Clint, a de achar que ficava bem que o garoto fizesse de pior actor da história, mas ele é que é o realizador de 78 anos feitos que filma tudo ao primeiro take e eu sou apenas uma pessoa que reconhece um actor a fazer de pior actor da história com laivos de autismo semi-medicado quando vejo um. O filme levanta algumas questões interessantes, sendo a mais proeminente a seguinte: parece-me que, a dada altura, um grupo de violadores leva a casa a rapariga que acabaram de estuprar. Apesar de simpático, o gesto é algo deslocado da natureza que estamos habituados a ver retratada em violadores e agonia-me particularmente pensar no silêncio desconfortável que marcou toda a viagem até casa da moça violada. Bom, vamos supor que existem conversas para quebrar o gelo após uma violação, se bem que o filme deixa isso em aberto. Um filme para pensar, portanto, mas que aconselho a não ir ver já com algum apetite, que aquilo ainda dura duas horas e passam a vida a mostrar comer em travessas bem aviadas e enfeitadas.
O melhor de Gran Torino: haver finalmente no audiovisual, e fora do espectro dos desenhos animados, uma personagem que rosne tão alto quanto fala.
O mais ou menos de Gran Torino: fiquei com vontade de provar a gastronomia daqueles chineses, mas no dia a seguir já me tinha esquecido e apetecia-me lasanha.
O pior de Gran Torino: a personagem do garoto a fazer de actor sem pingo de talento e aquele primo dele sempre a perguntar qual era “o mal de ter vindo ver o meu primo mais novo?”.
Classificação: 7.5/10
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Uma vez que sou um crítico não credenciado e as senhoras do cinema não me deixam ir aos visionamentos anteriores às estreias, tenho que me fiar nos trailers. O que dá e sobra, diga-se de passagem, e, assim sendo, analiso ainda duas das estreias desta semana:
Dupla Sedução (Duplicity)
Julia Roberts tem, até ver, apenas um filme declaradamente bom na sua carreira e não será com esta bodega que dobrará esse pecúlio. Neste filme, quem faz de homem é o Clive Owen, um actor que fica bem de fato. Tenho pena que o Paul Giamatti metido nisto, mas todos temos que fazer sacrifícios para manter bem vivo o nosso vício pelo jogo.
Classificação: 4/10
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Atormentados (Butterfly on a Wheel)
O gajo do 300 vestiu finalmente uma camisa e a mulher dele é aquela loura que o Aragorn comeu nas escadas num filme do Cronenberg antes deste último sobre mafiosos russos. Tem a vida perfeita ou o raio que os valha, mas depois aparece o mau e muda tudo. O vilão em causa é o Piercing Brosnan, um gajo com zero carisma para fazer de mau e manterei esta opinião mesmo que ele, na vida real, acabe por comer os meus filhos vivos.
Classificação: 5/10
Crítico Cine Limpo
T.C.