Transformers: Revenge of the Fallen
A sensação que deve trespassar qualquer pessoa de bem após os cento e 50 minutos deste, enfim, filme (que, tecnicamente, é o que é, dando no cinema, tendo um genérico e isso) é a de que acabou de ver coisas do Species – Espécie Mortal, do Exterminador Implacável, do Gremlins, do Matrix e do Indiana Jones, mas tudo misturado e com transformers à bulha. Até se percebe a ideia do Michael Bay, o homem que ass(ass)ina - chiça, que trocadilho tão bom, como é que nunca ninguém fez? - esta fita: todos os filmes aonde foi rapinar coisas têm o seu valor, por que porra uma mistura à balda desses mesmos elementos não havia de resultar? Não resulta da mesma forma que misturar pizza, palitos La Reine, iscas, pudim e molho de escabeche* - e pese embora o valor individual, sempre discutível, de todos estes pratos - não resulta, fazendo, inclusive, a pessoa vomitar. Bem, adiante, mas é, que isto custa a todos. Parece que, neste segundo episódio da saga Transformers, o Simon Le Bon, ou lá que porra é, entrou na faculdade e a sua namorada que arranja motas em Los Angeles (bela desculpa para a ter de cu para o ar em calções de ganga) é a Megan Fox. Antes disto, ficamos a saber que há actividade dos transformers maus em Xangai, cidade onde aparentemente é de dia às dez e tal da noite, sendo que basta uma troca de planos para ficar noite escura. Hum, pensam os transformers bons e os tropas humanos com 1/20 do tamanho e 1/100 da capacidade bélica, isto aqui há gato. E há mesmo, ainda que estejamos perante um argumento que parece ter sido escrito à medida que se iam filmando cenas.
O que consta, a dada altura, é que os transformers maus querem apanhar o Simon Le Bon porque o cérebro dele sabe umas moradas para fontes de energia. O chefe dos Transformers bons, Optimus Prime, avisa-o que vai haver chatice, mas o garoto está mais interessado em acabar os estudos e não faz caso. Destaque particular aqui para um dos momentos mais conseguidos do filme, mas só porque o Optimus Prime e o Simon Lebouef fizeram lembrar o diálogo entre o Omar Shariff e o Rambo III, se bem que trocando as grutas do Afeganistão por um cemitério em pleno dia. Local bem mais propício para uma conversa entre um garoto e um robot de 25 metros, sem dúvida, mas o que interessa é que o épico “This is not your war”, ou, no caso, uma variante muito próxima, foi proferido. A partir daqui é complicado identificar um fio condutor, sobretudo porque uma pessoa vai ficando cansada e farta-se de tentar tapar todos os buracos de argumento com o seu cimento mental. Vemos um um robot pequenito a montar - sim, no sentido lúdico-reprodutivo do termo - a perna esquerda da Megan Fox; há dois robots que, por alguma razão que ultrapassa tudo e todos, falam e agem como se fossem dreads estereotipados de um qualquer filme de 1997-2003; há piadas com tomates de robots e, calma, que há mais, com gases de robots; há um robot velho, com barbas e tudo, que apesar de se poder transformar em avião e voar, prefere coxear de bengala; e, numa das minhas cenas preferidas, enquanto o Shariff Lebouef está no meio do confronto final entre transfomers bons e maus, aparecem os seus próprios pais, em pleno deserto egípcio, e a admiração dele é quase nula. Sumarizando, de um filme que praticamente começa com piadas de um cão pequenito a canzanar um cão maior e mal-humorado (em sua defesa, há que dizer que é o tipo de piada ideal para determinada época e contexto histórico, e só é pena que na Idade Média não existisse cinema), há apenas que alertar para o facto de quase nem se perceber o que acontece nas lutas entre robots e ser complicado saber quem está a ganhar, para além de, só por si, ser sempre complicado saber quem são os bons e os maus.
* Fica o desafio para, a cada filme citado, fazerem corresponder uma destas comidas. Só uma correspondência é a correcta.
O melhor de Transformers – Retaliação: Megan Fox e o seu poder de, em 90% do tempo em que está no ecrã, se movimentar em câmara lenta. Nem as Marés Vivas conseguiram alcançar este rácio de “tempo no ecrã/mexer-se em câmara lenta”. E ainda bem que grande parte do filme é no deserto, um sítio quente. Se, por acaso, fosse no Árctico, toda a locomoção em câmara lenta da Megan Fox seria apenas uma maçada, essencialmente porque a rapariga estaria de kispo. Menção honrosa, só porque sim, para o facto de John Turturro ter decidido, por razões desconhecidas, escalar uma pirâmide enquanto um robot aspirador gigante fazia o mesmo.
O mais ou menos de Transformers – Retaliação: a meio do confronto final no deserto egípcio, um soldado americano grita “aí vêm os jordanos”, todo contente, o que nos leva a pensar que é desta que os maus levam na focinha de vez. Mas essa ilusão dura apenas 7 segundos, que é o tempo dos dois helicópteros jordanos serem abatidos, um com um míssil, o outro com uma chapada.
O pior de Transformers – Retaliação: coisas como “O Paciente Inglês” ficam a pelo menos mais um filme de distância do título de “pior obra da história do cinema”.
Classificação: 2/10
Crítico Cine Limpo
T.C.