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Pá, basicamente, estamos a eleger o melhor teledisco da presente década. Votam os elementos dos GANA e alguns dos seus mui estimados colaboradores. Se sua excelência carece de mais esclarecimentos, vá aos posts anteriores, andor. Se, por outra, achar que “eu faço o que eu quiser, penso pela minha cabeça, ó GANA”, clique aqui para recebermos uma sms e baixarmos a cabeça, cheios de vergonha por termos dado ordens à sua pessoa.
![]() João Moreira | Esta semana dissecamos a selecção de João Moreira, um dos membros fundadores de toda esta bodega, homem cuja sanidade tem vindo a sofrer fortes rombos devido à miríade de vozes que se vê obrigado a fazer pelas gripes permanentes de Pombeiro e a profunda incapacidade de Santo em fazer mais que a sua própria voz |
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Informações gerais
Teledisco de 2002 ou 2003, presumivelmente, que a informação é difusa (ao estilo de Camões, que também ninguém sabe se nasceu em 24 ou 25 do século XVI). A cantiga era um de três temas inéditos presente num best of de Chayenne, “Grandes Éxitos” de seu nome, e, tal como todo e qualquer tema inédito de qualquer best of da história do mundo moderno, pretendia apenas convencer aqueles fãs que, com propriedade, se questionam relativamente à mais-valia de um best of quando já têm todas as cantigas noutros discos. Outros truques de marketing equivalentes, e homologados pela mente humana mais básica como “eh pá, assim já vale a pena”, vão desde “remasterização” a “sim, mas este tem outra capa, mais moderna”; sendo que, na verdade, os temas inéditos presentes em best of costumam ser bastante preguiçosos. Porém, eis que, surpresa das surpresas, este Torero ganhou vida própria, vendo-se Chayenne na obrigação de criar um teledisco e administrar o devido valor a esta peça musical de excelência.
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Pontos a favor
1. Chayenne sempre foi um visionário e negar esta sentença significará fazer figura de parvo seja onde for. Neste teledisco, por exemplo, o autor porto-riquenho apresenta-nos uma forma eficaz de andar mais à vontade em metrópoles. Passo a explicar: repare-se como os passeios estão todos cheios de gente, menos aqueles por onde Chayenne se move. A mensagem é tão clara quanto proveitosa: andem de casaco de cabedal em dias de sol em pleno século XXI e acompanhem a vossa locomoção com um cantar danado, como se fossem ajustar contas à rua dum indivíduo que, enquanto fingia que pegava o jornal do dia no café, apalpou a vossa namorada numa mama. É apenas uma das muitas formas de poder andar à larga, sem ter que aturar as paragens e desvios repentinos dos velhadas. Cortesia de Chayenne, obrigado.
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Chayenne, todo à larga, à vontadinha, e um exemplo de todos os
outros passeios deste teledisco: só maralha a entupir tudo.
2. Como se não bastasse já o ponto anterior para termos todos uma vida mais feliz, o autor porto-riquenho sugere-nos ainda uma inovadora medida de segurança rodoviária: uns óculos especiais que substituem funcionalmente o capacete, substituindo-o ainda, e com melhorias evidentes, a nível de “estiloso”. Devem ser é caros.
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Chayenne com os seus óculos 100% segurança e 200% estilo (esquerda)
e Chayenne dançando, ainda com os mesmos óculos (direita). Trata-se de
outra grande vantagem comparativa destes óculos, que dançar com
o capacete na cabeça iria parecer apenas ridículo.
3. Registe-se, com inusitada excitação, a presença duma pessoa a dançar com um cão, que é um acto louvável em qualquer latitude. É particularmente bom porque a pessoa que dança com o cão acha sempre que o bicho gosta muito e que é o ponto alto do seu dia. Bem, com cães, até deve ser, que tudo abaixo de punições físicas é o ponto alto do dia de um cão. Seja como for, trata-se de um momento divertido, sendo que aqueles que, como eu, gostam de saber mais sobre danças entre humanos e animais, devem também experimentar fazê-lo com um gato, se quiserem ver a expressão mais enfadada possível em seres vivos.
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Pessoa dançando com cão. O cão está contente
porque é estúpido. É meio caminho andado para
se ser feliz.
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Pontos contra
1. A eterna questão dos maus exemplos volta à baila. A garotada que não pense que se pode parar o trânsito para fazer uma coreografia (ainda que uma com uma definidora vertente de paquera) e não sofrer profundas consequências. Caso tente emular o comportamento do Chayenne a este nível, fique sabendo que corre sérios riscos de ser abatido, agredido na cara com uma picha de boi ou vir serem-lhe atirados o macaco e o pneu sobresselente em pelo menos 17 dos 18 distritos nacionais (tenho dúvidas em relação a Castelo Branco). Tudo bem que o Chayenne é um ídolo para a humanidade, mas nunca conduziu em, por exemplo, Lisboa. Eu já. No seguimento, outra ocorrência relacionada com o tráfego - e que me parece absolutamente irreal - é a de os automobilistas danados (condição normal, se formos bem a ver) se juntarem à coreografia. Não se fiem nisto, que nem se condutor não tiver uma picha de boi, uma arma, um macaco ou pneu sobresselente, isto vai acontecer. De lembrar que Isto é um teledisco, e logo com o Chayenne, entidade aglutinadora de vontades e terminadora de conflitos, logo, no dia-a-dia, não é de fiar que aconteça assim, que eu até o Rão Kyao já vi levar uma chapada por não ter metido o pisca. Não se metam nisto.
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Gajo no trânsito, logo com ar de "então, *******?". É
o pendura, que o condutor já deve ter ido buscar a
picha de boi.
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"Afinal vou dançar com este homem, em vez de lhe
querer pegar fogo em frente aos seus próprios filhos".
2. Os coreógrafos fazem umas acrobacias, tudo bem, nada contra. Mas, mais uma vez, dão um mau exemplo às crianças. A primeira acrobacia é um salto mortal. Difícil de fazer. A segunda é um salto para trás que costumam fazer na ginástica dos Jogos Olímpicos. Difícil de fazer. A terceira acrobacia é um salto normal para trás. Fácil de fazer e absolutamente banal. O recado que passa é o de que todas estas acrobacias são fáceis, ainda para mais com as crianças a terem um intervalo de atenção cada vez mais curto e a só se lembrarem da facilidade do último salto. Quantos garotos não vão querer imitar os saltos que viram no teledisco do Chayenne? Todas. E quantas vão fazer este último salto e conseguir, tentando de imediato um dos outros dois saltos? Todas (talvez um gordo ou outro não consiga o terceiro salto). E quantas vão partir o pescoço a tentar uma destas duas acrobacias? Todas. E quantas vão morrer com a brincadeira? Provavelmente, para aí metade, que agora os médicos salvam quase tudo. Ouvi falar num bebé que nasceu sem cabeça e os médicos salvaram-no. Foi na Índia, acho eu.
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Um salto para trás. Que, bem vistas as coisas, até pode
muito bem ser salto para a frente rebobinado num vídeo.
3. O Chayenne faz isto tudo por causa daquela mulher e, no final, só saca um beijo? Enfim, parece pouco. E, às tantas, ela anda-se a deitar com um tanso qualquer lá no emprego, só porque ele não lhe liga/tem namorada/fá-la sentir-se inteligente, ao ser naturalmente bronco/é parecido com o pai dela, etc., mas ao Chayenne, que a ama tanto ao ponto de arriscar a sua própria vida para fazer uma coreografia (que dura umas 24 horas, é de notar) em hora de ponta numa grande metrópole, só dá um beijo que mais pareceu misericordioso. Vá-se lá entender as gajas.
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Chayenne, com direito a legenda e tudo, a beijar a
mulher que ama e a quem dedicou uma coreografia
épica. Nem meia hora depois, esta mulher poderá ter
estado semi-nua no WC com um colega de trabalho, o
que não deixa de ser irónico.
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Apreciação muito geral: estamos, sem dúvida, na presença de um fortíssimo candidato à vitória final! Abarcando vários espectros horários (dia, noite, etc.), este “Torero” é um daqueles casos em que os defeitos são rapidamente engolidos pelo mar de qualidade ímpar que nos proporciona. É a bonita história de um homem que, pelos vistos, ia danado com alguma coisa na rua, mas que se apaixona, dedica uma dança exemplarmente coreografada com desconhecidos à sua amada, e depois abala na sua mota, bem mais feliz do que quando o vimos pela primeira vez. Não posso deixar, porém, de lembrar que as más-línguas dizem que era este teledisco que João Pombeiro queria escolher, mas, não se lembrando no nome, acreditou na boa-fé de João Moreira, que lhe transmitiu que este teledisco seria do Chad Kroeger e se chamava “Hero”. São boatos que podem enegrecer esta escolha de Moreira. Vamos ver se há desenvolvimentos a este nível.
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Questão final: "João Moreira, por que razão escolheu este teledisco?
![]() João Moreira (clique em sua cabeça e ele sentirá uma pontada) | “Eu já sei é que esse boca suja do Pombeiro já andou por aí a espalhar que a minha escolha seria afinal a dele, aspecto que aproveito para negar veementemente. Esta foi a minha opção porque é um teledisco onde as metáforas de e para a vida são evidentes. E tem as pessoas a andar com imagem acelerada ao início, que é um mecanismo de comédia que sempre me agradou. Rio-me sempre. Outro mecanismo de comédia que aprecio de sobremaneira é a chamada inversão. Eu até prefiro ler - gosto muito de ler - a ver televisão, mas vejo-me obrigado a dar sempre a mão a palmatória em relação a este teledisco do Chayenne.” |
Analista Clipe Limpo
Mauro