Anjos e Demónios
Angels & Demons
Comece-se por constatar o óbvio: é sempre uma tragédia quando, na tradução de um título do inglês nativo para o nosso léxico, se perde uma coisa tão fascinante como o “e comercial”. Se, no título original, Anjos & Demónios está assim, mais parecendo que se trata de sócios daquela loja de tatuagens que é daquela mulher toda tatuada que parece ser obrigatório entrevistar sempre que há uma bodega duma reportagem sobre tatuagens, então era deixar estar, não custava nada. Qualquer pessoa de bem e com as prioridades perfeitamente alinhadas, entra, portanto, logo de nariz torcido para ver este filme e com absoluta razão. Quanto à obra em si, pode-se dizer que foi beber acentuadas influências à sempre fascinante – e clássica, em termos de produção de má qualidade - fórmula do “perito em qualquer matéria estupidamente específica vê-se numa corrida contra o tempo para salvar a vida a um tigelada de inocentes, sendo que ainda encontra sempre tempo para, educadamente, explicar o seu raciocínio a todas as pessoas com quem estiver na altura, isto antes de sair a correr”. Sair a correr de, note-se, fato e sapatos – o ideal para correr na calçada romana – e para, repare-se, ir à procura de estátuas em Roma que estejam a apontar os dedos em alguma direcção e depois correr para lá à procura de mais estátuas; porque, pelos vistos, essa é a única forma de tentar salvar quatro cardeais raptados por uma organização secreta que não piava há quatrocentos anos. Esta complexa organização , que, vai-se a ver, e é composta por apenas um gajo e um colaborador (um assassino a soldo, cuja única razão para não matar o Tom Hanks parece ser “Eia, aquele é o Tom Hanks, caraças! Qu’é qu’ele ‘tá aqui a fazer?!?”), tem então os cardeais em cativeiro, mas tem ainda uma bomba que vai rebentar com o Vaticano inteiro, se não mesmo com grande parte de Roma. Enfim, há ainda as reviravoltas habituais, com os maus a serem os bons e vice-versa, mas o que realmente fica deste filme é o facto de ser pior que “O Código Da Vinci”, essencialmente porque este último já foi há muito tempo e ninguém se lembra o quão mau é. De lembrar que, quem chegar atrasado, não vê o Tom Hanks a nadar numa piscina às 5 da manhã e, a julgar pelos calções, em 1988.
O melhor de Anjos e Demónios: agora já sei usar as palavras “anagrama” e “ambigrama” numa conversa, embora não saiba o que querem exactamente dizer, sobretudo a segunda.
O mais ou menos de Anjos e Demónios: quando toda a gente pensava que a escolha de um novo Papa obedeceria sempre a regras extremamente rígidas e estanques há centenas de anos, eis que este filme nos mostra que qualquer moço de recados da estrutura do Vaticano pode chegar a Sumo Pontífice, desde que pegue numa espécie de super bomba que vai rebentar daí a cinco minutos, pegue num helicóptero, suba o mais que puder no céu até aquilo estar quase a explodir e se atire de pára-quedas, acertando com os joelhos e os pés na cara dum monte de pessoas quando cá chegar abaixo. Parece uma prova de candidatura complicada, mas até que compensa arriscar, uma vez que ser Papa é mesmo um dos melhores empregos (tem direito àquele carrinho de golfe todo blindado, etc.).
O pior de Anjos e Demónios: Este filme mostra o que já se sabia há muito, que aqueles sistemas de segurança baseados em identificação de retina é meio caminho andado para um mau nos dar cabo duma vista. Não custava nada desenvolverem qualquer coisa relacionada com a identificação de mindinho, que não é preciso a ninguém e não se perde muito se os maus nos deceparem aquilo para entrar e roubar coisas importantes. Mindinho do pé, que da mão as pessoas ainda notam e comentam.
Classificação: 4.5/10
Crítico Cine Limpo
T.C.