A Ressaca
The Hangover
Pela primeira vez na história do Cine Limpo, o crítico Cine Limpo teve um convite - e duplo, para poder ficar mais à vontade, à larga e sem necessidade social de alternar o usufruto do apoio braçal - para a antestreia dum filme. Convites costumam ser coisas boas e, sobretudo isso, “de graça” costuma ser característica para botar um sorriso nos lábios seja de quem for. Excepção: ser em Oeiras. Uma coisa de graça, sendo em Oeiras, perde qualquer tipo de mais-valia e, assim sendo, o crítico Cine Limpo não pôde ir por razões de força maior. Não é nada contra Oeiras especificamente, que, por exemplo, Carnaxide seria igual. Aliás, bastaria ser em qualquer lugarejo onde não chegue Metro (ou chegue e não fosse suposto, como Amadora e afins) para o crítico Cine Limpo torcer o nariz. Linha vermelha também já implicaria bufares constantes durante todo o caminho, mas, enfim, seria suportável. Portanto, o crítico Cine Limpo acabou por ver o filme como qualquer civil, ontem. Para começar, não deram trailers, logo, não devem haver estreias para a semana ou nos próximos tempos. De outra forma, não faria sentido o cinema não promover os seus próprios produtos e preferir deixar as pessoas dez minutos a olharem para o boneco. Publicidade lá deu com fartura, claro, e, caso me tivesse esquecido (se calhar nem reparou, mas crítico Cine Limpo falou sempre na terceira pessoa até aqui, seu monoceronte) desde a última vez, o Festival Super Rock parece querer reunir um dos piores cartazes de sempre com os Depeche Mode, só para ver se dá. Quanto ao filme propriamente dito, é a típica película para, via “número de gargalhadas”, as miúdas fazerem o teste “quão atrasado mental é o meu namorado?”, ainda que, há que dizê-lo, esteja longe de ser dos piores da categoria. Muito longe. Ora, vá lá ver, “A Ressaca” conta a história de quatro indivíduos que vão a Las Vegas para a despedida de solteiro de um deles; o que está longe de ser inovador – inovador seria, por exemplo, passar uma despedida de solteiro em casa, a ler um livro, mas é capaz de também pode ser mais chato, que ver filmes de pessoas a ler tende para aborrecer. Em suma, há neste filme coisas para as pessoas rirem: rabos de gordos à mostra só porque sim, rabos de velhos à mostra só porque sim, rabos de chineses à mostra só porque sim, uma mama à mostra – com, diga-se de passagem, má equivalência mamilo/resto da mama – só porque um bebé tinha fome, e um Mike Tyson só para mostrar que é péssimo actor, mesmo fazendo dele próprio, mas que ninguém teve coragem de lhe dizer. Privilégios de quem tem uma tatuagem na cara – adereço elucidativo, sem dúvida - e derruba paredes com o punho, suponho. Contudo, e caso restassem dúvidas sobre isso, o facto de, no filme, Tyson ser fã de Phil Collins é algo que só o valoriza, nem é preciso lembrar isso.
O melhor de A Ressaca: o bebé, claro, para as pessoas terem pena. Depois, como já se adiantou, até houve um bebé a mamar, para as pessoas terem mais pena ainda, porque o bebé estava com fome, coitadinho. O que deu mais pena foi o bebé a chorar. Porque é que fizeram o bebé chorar?
O mais ou menos de A Ressaca: basta vestir um fato e parecer autista para conseguir contar cartas num casino. Descer umas escadas rolantes antes disso também parece ajudar. Deviam fazer um filme sobre isso.
O pior de A Ressaca: tem uma referência ao filme Casino, do Scorsese, que só eu é que vi e que agora toda a gente vai dizer que também viu. Assim com’assim, isso é o menos, que o problema é que agora há pessoas que vão ver o Casino e pensar que o Casino é que tem uma referência ao filme “A Ressaca”. Sendo que irão trocar a palavra “referência” pela expressão “eia, isto é copiado daquele filme de rir!”, ao passo que eu trocarei um “vou ignorar estas pessoas, porque é o que elas merecem” por um pontapé na cara com toda a força seguido de fuga porque estou com pressa.
Classificação: 6/10, mas só porque o título no Brasil é “Se beber, não case”.
Crítico Cine Limpo
T.C.