"Boiler", de Limp Bizkit
Esta semana não há nota introdutória. Escolha o seu GANA ou colaraborador preferido e leia a introdução do teledisco por eles seleccionado (Pombeiro, Filipe, Marcelo, Moreira, Zé Bernardo).
Zé Bernardo | E, à quinta semana, a vez de Zé Bernardo. Que adiantar relativamente a esta emblemática entidade? Colaborador próximo dos GANA, deste homem, embora muito se possa dizer, basta lembrar que é voz e alma de Manuel Bernardino de Souza. Se não sabe quem é Manuel Bernardino de Souza, tente-se estrangular diariamente até conseguir. A alternativa é clicar aqui. |
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Informações gerais
Datando de 2001 e com Dave Meyers (?-?) sentado na cadeira de realizador, “Boiler” destaca-se logo de sobremaneira pelo facto de ter sido filmado em Lisboa, feito que nem alguns dos vídeos musicais dos Xutos & Pontapés granjearam (aquele numas jaulas tinha ar de ter sido no Barreiro, que é, enfim, mais ou menos perto). A temática do teledisco é muito verosímil – todos querem matar o cantante dos Limp Bizkit -, mas bastante desactualizada – em tempos, todos queriam matá-lo, agora simplesmente ninguém quer saber, reagindo inclusive com um “eia, este gajo” (de pendor mais nostálgico que de aversão, há que notar) quando o vê num revista velha que estava caída atrás dum móvel lá em casa.
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Pontos a favor
1. Esta obra audiovisual entra muito bem, com, quiçá, o ponto a favor mais forte de todos os pontos a favor até agora identificados nos concorrentes a teledisco da década! Refiro-me, claro está, à honrosa participação da mítica roulotte do Aires em Lisboa, um negócio que acabou por dar para o torto por razões nunca esclarecidas. Seja como for, é com incontido entusiasmo que todos devemos receber a lembrança desta tentativa de expansão negocial, esperando ansiosamente que o Aires volte a tentar. O nome do estabelecimento foi ideia dum velho amigo, disse-me o próprio Aires (clique aqui para ver quem).
A rolotte do Aires em Lisboa. Quatro lugares sentados,
2. Finalmente, uma mensagem positiva num teledisco de Rock (tipo de música que, por norma, não quer saber). Ora, presumivelmente, o cantor dos Limp Bizkit acabou de ter sexo. Uau, que herói. Mas a questão é que, pouco depois, a mulher abre a boca e sai de lá um aparelho metálico que larga uma bola-bomba e aquilo rebenta tudo. Das duas, uma: ou se está a querer mostrar que ninguém se deve relacionar intimamente com o Limp Bizkit (uma descoberta que promete mudar o mundo, de facto), ou se está a querer mostrar que é sempre necessário ter basta prudência com mulheres bonitas que se queiram deitar com alguém que claramente não é do seu campeonato. Desconfie se uma mulher bonita o quiser ver nu. Jogue pelo seguro (clique aqui para mais informações em relação a esta postura defensiva).
Esta mulher nunca na vida se deitaria com
aquele homem. Estava-se mesmo a ver
que ia haver chatice.
3. Este clipe consegue, em diversas vertentes, retratar bem a cidade de Lisboa. É, por exemplo, bastante comum explodir um 5º andar inteiro, cair de lá um homem pequenito, e ninguém querer saber. Em Lisboa é assim. Para além disso, é comum sobreviver-se a uma outra explosão e acordar num bordel onde as cantoneiras são todas biónicas, mas, apesar disso, nos amam a sério. Basicamente, Lisboa é isto, estando por provar a existência de um monstro feito de salsichas nas suas catacumbas. Ainda há muita questão envolvendo Lisboa a carecer de evidência científica.
Um monstro feito de salsichas que habita a
Lisboa subterrânea. Isto deve ser mentira, por
isso é que está em bonecos. Se fosse a sério,
era em fotografia mesmo.
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Pontos contra
1. Há, cheira-me, grandes hipóteses de o cantor ter dormido todo vestido e calçado. Descobri que isso não se podia fazer quando vi uma tia minha a chamar – através de berros, que será sempre a melhor forma de passar uma mensagem - “porco, seu porco” a um primo meu, quando o apanhou justamente todo vestido e calçado nos lençóis, em sua cama. A partir dos meus vinte anos, deixei de contar as vezes que, por achar que tenho a resistência ao álcool dum John Wayne, acordei todo vestido e calçado dentro da cama. Qualquer mãe vos dirá que dormir todo vestido e calçado dentro da cama não é correcto, seu porco, e ter telediscos a vangloriar este tipo de comportamentos como sendo os de pessoas que acabaram de ter sexo, enfim, parece-me despropositado.
Assinalável nível de descontracção, há que louvar,
para quem dormiu todo vestido e todo calçado.
2. Se, nos pontos a favor, coloquei entusiasticamente a presença da roulotte do Aires, agora tenho que lamentar a má imagem que, em determinados aspectos, dão do estabelecimento comercial em questão. Nunca ouvi falar em cair a cabeça a pessoas no Aires. Nem uma hamburga vir com minhocas (plural, que singular pode acontecer em qualquer casa de referência). Afinal, esta coisa de ter o nosso negócio de restauração a aparecer em telediscos de bandas internacionais pode ser contraproducente. Quem me garante a mim que não foram estas referências negativas que ditaram o fecho da roulotte do Aires? Em princípio, aquele carro a rebentar com tudo terá sido efeitos especiais, não sei.
Uma pessoa a ficar sem cabeça. Não há registos
de isto alguma vez ter acontecido no Aires. Só em
termos hipotéticos, através de ameaças e assim.
3. Para terminar este capítulo de evidenciação dos elementos mais negativos, saliente-se o facto de o vocalista dormir todo vestido e todo calçado, mas quando é para ser desenho animado já estar todo nu. Depois vai ter a uma gruta onde estão outros bonecos todos nus e faz-lhes um pirete, sem ter sido sequer provocado ou sem sequer lhe terem passado uma razia com o carro numa passadeira. Não percebo esta metáfora, palavra de honra. E eu até fui o primeiro da minha sala a perceber que aquele poema do Antero de Quental era sobre uma gaja.
Boneco do cantante dos Limp Bizkit fazendo um
pirete (censurado porque vêm cá muitos garotos ver
o Bruno Aleixo).
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Apreciação muito geral: Excelente arranque, mas um final algo insonso, ainda que passado num daqueles templos à Indiana Jones onde um indiano mau arranca o coração a pessoas com as próprias mãos. A presença do engenho negocial do Aires faz-se sentir, mas de forma algo agridoce. Sendo um teledisco para toda a família (tem gajas, explosões, desenhos animados, um velho a comer polvo, etc.), ficamos a sensação que poderia ter chegado mais longe. Ainda assim, um forte candidato à vitória final.
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Questão final: "Zé Bernardo, por que razão escolheu este teledisco?"
Zé Bernardo (clique na sua boca para ele sentir amargueza) | "Simples. Eu, no fundo, sou como o Mário Augusto: gosto é de os ouvir falar de Portugal. Eles não falam em Portugal per se, mas foi filmado em Lisboa, é equivalente. Quando me falta conversa, costumo dizer que já vi os Limp Bizkit no Cais do Sodré e as pessoas acreditam por causa deste vídeo. Uma vez também vi os Hoobastank, mas ninguém acredita.” |
Analista Clipe Limpo
Mauro